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Para mim tem sido difícil retomar a rotina depois férias. Parece que a cada ano, ao final dos dias de descanso eu me sinto menos disposta do que antes de entrar no modo relax. Estou me sentindo mais do que cansada, sinto que estou esgotada. Mas não é físico, é um cansaço emocional. É uma agonia que perturba o sono, tira a fome, deixa um gosto amargo na boca e faz o coração ficar apertado e as lágrimas rolarem fácil…
O mais estranho é que esse sentimento não é sobre mim particularmente. É sobre viver num mundo que está muito pesado. É sobre viver com a sensação de não há futuro ou que ele não será bom. O que eu vejo da minha janela pessoal me assusta e me entristece. E a rotina que se impõe com uma força brutal, torna essa angústia tão densa e sufocante quanto o calor e tão certa como a tempestade no fim do dia.
Esses últimos meses, especialmente, estamos vivendo um show de horror protagonizado por muitaviolência, intolerância, preconceitos, ódio, falta de empatia, desamor, mudanças, ainda muito incertas, no panorama político, mas a gota d’água para mim foi o mar de lama que devastou Brumadinho/MG na semana passada. Desde aquele dia, uma grande tristeza me abateu.
Sem saber como resolver esses sentimentos tão meus sobre as dores do mundo, escrevi um poemaque se chama: Um sopro de amor. Para mim, aescrita é um importante recurso no enfrentamento e na elaboração do sofrimento. Ante a necessidade de esvaziar as emoções, eu coloco na escrita tudo aquilo que eu não posso compreender, explicar ou traduzir, mas que é sentido de forma visceral. Com vocês:
Um sopro de amor
Ando me sentindo mal, com uma baita ressaca moral, com uma dor sem fim.
Quando abro os olhos e me vejo no espelho, sinto pena de mim.
Como não sei onde encontrar a razão de tanto sofrimento,
Me lamento por estar vivendo um momento tão ruim.
A dor que rasga o peito é a mesma que destrói o desejo de ser feliz;
Por isso, a esperança de viver na alegria morre aospoucos, se esvai dia a dia.
Mesmo não querendo estar mais aqui, sigo imersanesse cotidiano doloroso.
E tem outro jeito?
Que tortura que é ser a única testemunha da própria dor…
Anseio por um fim acreditando que depois desse ponto,
Tudo o que não for vida deixará de existir;
E só então eu estarei livre para ser um sopro de amor.
Cibele Mello
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